Do Meu Cantinho na Roça
do Meu Cantinho Na Roça
Conheci os ipês na minha infância, em Minas, os pastos queimados pela geada, a poeira subindo das estradas secas e, no meio dos campos, os ipês solitários, colorindo o inverno de alegria. O tempo era diferente, moroso como as vacas que voltam em fim de tarde. As coisas andavam ao ritmo da própria vida, nos seus giros naturais. Mas agora, de repente, esta árvore de outros espaços irrompe no meio do asfalto, interrompe o tempo urbano de semáforos, buzinas e ultrapassagens, e eu tenho de parar ante esta aparição do outro mundo. Como aconteceu com Moisés, que pastoreava os rebanhos do sogro, e viu um arbusto pegando fogo, sem se consumir. Ao se aproximar para ver melhor, ouviu uma voz que dizia: “Tira as sandálias dos teus pés, pois a terra em que pisas é santa”. Acho que não foi sarça ardente. Deve ter sido um ipê florido. De fato, algo arde, sem queimar, não na árvore, mas na alma. E concluo que o escritor sagrado estava certo. Também eu acho sacrilégio chegar perto e pisar as milhares de flores caídas, tão lindas, agonizantes, tendo já cumprido sua vocação de amor.
Mas sei que o espaço urbano pensa diferente. O que é milagre para alguns é canseira para a vassoura de outros. Melhor o cimento limpo que a copa colorida. Lembro-me de um pé de ipê, indefeso, com sua casca cortada a toda volta. Meses depois, estava morto, seco. Mas não importa. O ritual de amor no inverno espalhará sementes pela terra e a vida triunfará sobre a morte, o verde arrebentará o asfalto. A despeito de toda a nossa loucura, os ipês continuam fiéis à sua vocação de beleza, e nos esperarão tranqüilos. Ainda haverá de vir um tempo em que os homens e a natureza conviverão em harmonia.
Agora são os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.
Cada um dizendo uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira musical, que certamente teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se tivessem vivido aqui.
Primeiro movimento, “Ipê Rosa”, andante tranqüilo, como o coral de Bach que descreve as ovelhas pastando. Ouve-se o som rural do órgão.
Natureza Bela
Segundo movimento, “Ipê Amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê, fazem soar a exuberância da vida.
Projeto ipê
Terceiro movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e esperança. Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno...
Natureza Viva
Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar os ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto. Quem sabe acontecerá com você o que aconteceu com Moisés, e sentirá que ali resplandece a glória divina... (Tempus Fugit, pág. 12 Rubem Alves).
Espero sinceramente que voce, como eu, tenha gostado deste texto...
Tenham todas uma linda semana!
beijinhos
Tina
Tina amei o texto,quem sabe um dia o homem vivera em harmonia com a natureza de verdade,tenho um pé de ipê amarelo no meu jardim mas só floresce la por final de setembro,ai tudo fica pintado de amarelo,beijos e bom final de domingo
ResponderExcluirTina que texto mais lindo.....adorei os seus Ipes...o nossa aqui já cairam quase todas as flores, a calçada esta parecendo um tapete...o branco fica de 2 a 4 dias e as outras cores ficam ate 10 dias as flores no pé....beijos
ResponderExcluirVim do Sonhar e Realizar só para reler o texto e rever as imagens. Maravilhas!!!
ResponderExcluirO ipê pra mim é a árvore mais bela... fala do amor e da grandeza de Deus por nós. Encanto-me com elas, Tenho dois pés do amarelo e um do rosa
mas não floresce muito são novos.
Abraços! Fiquem com Deus.
Amiga querida,
ResponderExcluirque texto lindo, imagens e sentimentos maravilhosos, só podia ter vindo de ti...
La no meu "infinito Particular", o meu cantinho na roça, tambem está acontecendo um verdadeiro espetaculo dos Ipes...no alto de uma montanha, no meio da mata, um presente de Deus para colorir nossa vida...
Eu plantei 2 roxos, 1 amarelo...sei que demora, mas ainda quero ver estas árvores floridas e ornamentando meu cantinho.
Que voce tenha uma otima semana.
Bjokas
Tina, adorei o texto e as fotos!
ResponderExcluirEu vivo pelas ruas admirando os ipês... e ultimamente, fotografando também.
São lindos demais...
Esses dias também fiz um post com fotos das ruas... são inspiradores, né?
beijinhos e boa semana,
Rô
Nossa que lindo, que inspirador...tambem ja plantei muitas arvores, ja briguei com gente cortando arvores a toa, vixe,sempre amarei a natureza, como voce querida!!!!bjo,bjo.
ResponderExcluirTina,
ResponderExcluirContinuo não conseguindo postar comentários a partir do meu perfil no bloger, mas comento como anônimo ... Não posso é deixar de comentar postagens tão belas como as suas. Amo ipês!!! Ontem estive na cidade de bonfim, há 90 km de BH e me deliciei no caminho com as centenas de pés de ipês amarelos pelo caminho. Vi também uns três do vermelho e apenas um do branco. Não consegui fotografar porque estava de ônibus e a poeira do minério à beira da estrada deixou o vidro da janela embassado. Mas no ano que vem, se for da vontade de Deus, voltarei de carro e faço questão de parar para tirar as fotos que não tirei dessa vez. São coisas da vida ...
Tina,
ResponderExcluirEsqueci de dizer que o comentário anônimo sobre os ipês é meu, Anabela Jardim.
Oi,Tina!
ResponderExcluirQuerida amiga, que maravilha este teu post de hoje... Ipês e Rubem Alves, unidos pela tua ternura e sensibilidade...Simplesmente mágico!
Sou imensamente apaixonada por essas espetaculares árvores! Fico tão feliz quando as vejo assim, completamente cobertas de flores...São dádivas preciosas de Deus à cada um de nós... Verdadeiro espetáculo da natureza!
Por isso, também me entristeço com as pessoas que parecem não ter coração, e reclamam das flores caídas nas calçadas... Dizem que elas "sujam" os caminhos... Mas graças à Deus, há ainda muitos que enxergam a sua real grandeza,e vêem nos ipês a graça celestial!
Muito lindo, Tina... Este teu post emocionou e iluminou o nosso caminho!
Beijo no teu coração generoso de flor!
Teresa
("Se essa lua fosse minha")
Tina, só agora consegui chegar por aqui.
ResponderExcluirE parece que meu dia continuou em seu post, pois hj ví tantos ipês amarelos que até perdi a conta, de pequenos a grandes, de grandes a gigantescos.
Quem sabe no sábado, em meu caminho de volta pare e fotografe um a um , de todos que vejo pelo caminho e encha a blogosfera dos amarelos de Minas.
cara tina eu tenho um pé de ipe amarelo no meu quintal que não é muito grande. E gostaria de saber se a raiz do ipe fica muito grossa, e se pode ter algum tipo de rachadura, no piso do quintal, ou na estrutura da minha casa?
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